O moço das flores
Felipe de Freitas e Silva, conhecido por Xodó, nasceu em Santa Fé do Sul/SP, em Janeiro/85. Sempre residiu em Paranaíba, no interior do estado de Mato Grosso do Sul. Atualmente mora em Araçatuba/Sp, interior paulista. Sua vocação para as Artes sempre lhe pareceu um fato consumado, um destino de vida, por assim dizer. Desde o Ensino Médio era procurado pelos amigos para que fizesse as capas dos cadernos e apostilas, onde chamava à atenção as cores fortes e impactantes, características de seu trabalho atual. Pouco antes de ingressar na faculdade de Direito, em 2003, pintou algumas telas. No entanto, após o ingresso na faculdade, abandonou os lápis de cor e os pincéis. Fato este que o artista vê como um acaso circunstancial. Retornou para os braços da arte em meados de 2015, já na casa dos 30 anos de idade. Atualmente, longe da advocacia, trabalha como artista em tempo integral.
Artista plástico, muralista e ilustrador nato. Produz arte visionária, de apelo feminino e que valoriza elementos da natureza, como as flores e a representação do cosmos. Uma arte de autoconhecimento, que busca redefinir o sentido da própria vida a partir de questionamentos múltiplos, a exemplo dos papéis para os quais os indivíduos são determinados socialmente. Arte que expõe um sonhador compulsivo e um alguém que quer entender/explicar a vida no seu melhor. Imprime ainda em sua obra um mosaico de referências e intertextualidades.
Contemporâneo, passeia entre vários estilos, gêneros e materiais. Essa fluidez permite-lhe deixar patente em sua arte uma habilidade investigativa quanto aos estudos cromáticos. Artista que busca sempre uma universalização conceitual – como se espera da arte atual. “Glocal”, diriam os experts, não perde as referências regionais ainda que busque refletir acerca de princípios tão diversos como indivíduo/mundo, eu/outro/, representação/representatividade.
traços & cores
Seu traço e suas cores são projeções de seu eu. Apaixonado pelo trabalho do artista pernambucano Wellington Virgolino (1929- 1988), de onde tira grande parte de sua inspiração e referências, imprime em seus trabalhos elementos diversos e que não se prendem às possibilidades, sobretudo de metamorfoses estilísticas.
Artista autodidata, sua carreira iniciou-se, de fato, no ano de 2015, com ilustrações com lápis de cor sobre papel. Mas foi nos murais que se encontrou, com a criação e idealização do Projeto Colores, mesclando ao seu traço, influências da street art. Sua arte se expressa em formas femininas e orgânicas. Há com isso, uma identificação com o natural, cuja relação com o feminino espelha preocupações quase que psicanalísticas. O feminino é metáfora da natureza, e vice-versa.
Colorista nato, retrata o tropicalismo e a sensualidade brasileira. Nos murais e telas, utilizando de tinta acrílica branca, fabrica sua própria coloração. A cor é uma marca de sua personalidade artística. Tem consciência plena de que é preciso sempre perscrutar as vias com que cores e formas, e estilo, luz, contrates e matizes são experimentos não apenas pictóricos, mas também pessoais. A cor é como um espaço de exposição do ego, de aprendizagem para a percepção humana. Uma elevação espiritual e meditativa.
Artistas bem sucedidos têm uma forte ética de trabalho. É desta forma que Felipe pensa. Ele busca gerenciar bem esse viés. Administrar sua energia criativa e seus recursos com eficiência e eficácia é como lei em seu trabalho. Por isso, escolheu um ritmo de trabalho profícuo e o cumprem à risca. Apesar de enfrentar dificuldades, sabe o que deve ser feito e o faz sem reclamar e sem ressentimentos. Sua arte, por isso, também envereda pela espiritualidade, mas nunca como algo fugaz e efêmero, inacessível à abordagem racional. Na verdade, constrói um diálogo sujeito-objetoespírito em fase de eterna criação/recriação. Arte é uma forma de transcendência da condição humana. É uma superação de conflitos interiores e exteriores. É a chance que se tem como artista de se alcançar a desmaterialização feliz. É a busca de uma plenitude indizível.
projeto & colores
Dada a importância da arte como ferramenta de transformação sociocultural, o Projeto Colores surgiu, em abril/2016, e foi idealizado pelo artista Xodó, para a revitalização de espaços urbanos degradados, bem como para a divulgação dos artistas paranaibenses. Projeto que deu início com mais de 30 pessoas, atualmente conta com apenas o artista Xodó, que permanece trabalhando de forma intensa e tenaz, uma vez que encara o próprio projeto como algo realizador de seus princípios e valores pessoais; convicções, enfim. Devido a grande demanda, o artista limitou-se a atuação do Projeto Colores a revitalização de escolas e creches públicas, preocupando-se ainda com a inserção das crianças nos trabalhos realizados. Houve ainda cumprimento de medidas socioeducativas no projeto, uma vez que a arte e a cidadania podem possuir caráter ressocializador mais efetivo quando conjugadas em conjunto. O princípio deste trabalho não é apenas de embelezar espaços esquecidos ou não valorizados. Também é possibilitar a recriação do urbano por si mesmo, uma vez que seu conceito, popularmente falando, é sempre visto de forma criticamente negativa e difícil, sobretudo no contexto brasileiro. A arte do Projeto Colores executa trabalhos com o princípio de pensar beleza como uma experiência de coletivo, de reinvenção de experiências passadas, de recuperação do que é bem de todos. É humanizar a vida nas ruas e para os que podem (e devem) desfrutar dela. E, em 2019, o projeto retoma suas atividades em novo formato: as crianças e a comunidade elaboram o fundo colorido, para então o artista desenhar seus traços em preto, sobre a cor.